sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

SEGUNDA PARTE ISRAEL (REVISTA PLANETA)


Terra de leite, mel e petróleo
Israel possui uma das maiores reservas de xisto betuminoso da Terra, e a quantidade de petróleo extraível do querogênio existente nessas rochas praticamente rivaliza com a da Arábia Saudita. O país pode conquistar a independência energética e mudar o xadrez político do Oriente Médio. Mas o custo ambiental é alto.


por Eduardo Araia
Depois de se aposentar na Shell em 2008, Vinegar e sua mulher decidiram se mudar para Israel, onde ele pretendia lecionar. Mas o geólogo-chefe da IEI, Yuval Bartov, que o conhecia dos tempos do Colorado, tinha outros planos. Bartov convenceu o presidente da IDT, Howard Jonas, de que Vinegar era essencial para o projeto do xisto israelense e não demorou para o físico se juntar ao grupo.
Bartov e Vinegar concentram esforços numa área central de Israel, Adullam, onde o Serviço Geológico já havia identificado um veio de xisto betuminoso na década de 1980. Como a camada de rochas estava a cerca de 300 metros de profundidade, não interessou, na época. Vinegar e Bartov, porém, haviam trabalhado com essa mesma profundidade no Colorado e não a consideravam um obstáculo intransponível.
Os bons resultados das pesquisas têm mobilizado muita gente. Por um lado, a IDT, controladora da IEI, viu o preço de suas ações - que haviam baixado a US$ 0,66 na crise de 2008 - subir estratosfericamente para US$ 30 em meados deste ano. A companhia tem atraído investidores pesos-pesados, como o dono da News Corp., Rupert Murdoch, o financista britânico Jacob Rothschild, o ex-vice-presidente norte-americano Dick Cheney e o bilionário administrador de fundos Michael Steinhardt - que, aliás, é o atual presidente da IEI.



 
Riqueza súbita
A dependência externa israelense de petróleo e gás contrasta com a fartura dos seus vizinhos (apresentada em reservas comprovadas). Mas se forem considerados o petróleo contido no xisto betuminoso e as descobertas de gás no litoral, o país passa a figurar entre os gigantes da região.

Do outro lado, habitantes da região e ecologistas já começaram a se movimentar para dificultar ao máximo o que consideram um crime ambiental. Adullam é conhecida pelas terras férteis e uma de suas partes, o Vale de Elah (onde, segundo a Bíblia, Davi matou Golias com uma pedrada), é chamada de "Vale do Napa israelense", pelos vinhos ali produzidos. Os agricultores estão compreensivelmente preocupados com as potenciais mudanças no ecossistema deflagradas pelas operações da IEI. Um dos principais aquíferos de Israel passa 200 metros abaixo do depósito de xisto. O principal temor é que o processo de extração acabe por contaminá-lo. Bartov e Vinegar juram que não: para eles, a camada de rochas que separa as duas ocorrências é impermeável e impedirá infiltrações. Mas essa argumentação ainda é vista com muita desconfiança. A água vale tanto ou mais que petróleo em Israel.
John Brown, da Zion Oil, procura poços inspirado pela Bíblia. Até agora, sem sucesso.
"Eles estão planejando uma indústria petrolífera experimental, suja e perigosa", diz a ecologista Orit Skutelsky, da Sociedade de Proteção da Natureza de Israel. "O país não é o lugar para esse tipo de indústria, especialmente esta parte dele." Chagit Tishler, professora que mora numa cooperativa próxima de Elah, compartilha dessa visão: "Há muitas incertezas e incógnitas. Eles (o pessoal da IEI) não estão sendo completamente honestos conosco. Não queremos ser cobaias." No Canadá, a exploração do xisto betuminoso gera muitas críticas e protestos.
Vários grupos ecologistas impetraram na Justiça ações contra o prosseguimento dos trabalhos da IEI, por enquanto sem resultados palpáveis. A Suprema Corte israelense decidiu que só examinará o caso a partir de abril de 2012. Com isso, a IEI poderá iniciar ainda este ano uma nova etapa dos trabalhos: a perfuração de três poços com três metros de espaço entre eles e o aquecimento das rochas durante 270 dias, como amostra do processo in loco que resultaria na extração de 2 mil barris de petróleo por dia.
A sequência do caminho, porém, não deverá ser nada fácil: a empresa terá de obter do Ministério do Interior uma licença de permissão de uso da terra, a qual será ou não aprovada a partir da avaliação do ministro e de um comitê de planejamento, integrado por representantes do Ministério de Proteção do Meio Ambiente e de comunidades locais. Bartov prevê dificuldades: "Achamos que o ministro do Meio Ambiente não quer que esse projeto aconteça", confessa. Sua esperança é que as razões geopolíticas - e a promessa de reduzir as emissões de gases de efeito estufa na exploração do xisto - vençam a resistência. "A independência energética de Israel se tornará algo muito importante para o Estado", diz Michael Steinhardt. Nos próximos meses Israel deverá decidir qual caminho seguir nessa encruzilhada.

Tentativas frustradas
Na década de 1930, geólogos britânicos procuraram petróleo infrutiferamente nas terras que viriam a constituir o Estado judeu na década seguinte. A busca parecia perto do fim em 1955, quando uma equipe norte-americana e israelense encontrou óleo de boa qualidade no campo de Heletz-Kokhav. Mas logo a boa-nova deu lugar à desilusão: nenhum outro campo foi descoberto e a produção de Heletz-Kokhav esgotou- se ao atingir 17,5 milhões de barris (cerca de três dias de produção da Arábia Saudita). Entre 1960 e 1985, a Israel National Oil perfurou 500 poços no país. Nenhum foi bem-sucedido. Depois de virar motivo de piada, a empresa interrompeu as perfurações em 1986.
A saída de cena foi a deixa para amadores movidos por motivos religiosos. O evangélico norte-americano Jim Spillman publicou um livro em 1981, The Great Treasure Hunt (A Grande Caçada ao Tesouro), no qual vê em versos do Velho Testamento indícios da presença do líquido precioso na região. A obra estimulou um conterrâneo, John Brown, executivo de uma indústria de ferramentas, a constituir a empresa Zion Oil and Gas para se dedicar à busca, que adquiriu direitos de perfuração no norte de Israel. Mas tampouco obteve sucesso.

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